Falando em nossos artigos anteriores sobre os diversos tipos de segredos de ordem mais ou menos externa que podem existir em certas organizações, sejam elas iniciáticas ou não, mencionamos, entre outros, o segredo relativo aos nomes de seus membros; pode parecer que este deva ser classificado entre as simples medidas de precaução destinadas a proteger contra perigos vindos de qualquer inimigo, sem que haja razão para se buscar um motivo mais profundo. De fato, este é certamente o caso em muitos exemplos, ao menos naqueles em que se trata de uma organização secreta puramente profana; entretanto, quando se está no domínio das organizações iniciáticas, pode haver algo mais, e esse segredo, como tudo o mais nesse domínio, é verdadeiramente simbólico. Tanto mais interessante se torna insistir um pouco sobre esse ponto quanto a curiosidade pelos nomes é uma das manifestações mais comuns do ‘individualismo’ moderno; e, quando essa curiosidade pretende aplicar-se às realidades do domínio iniciático, ela testemunha uma incompreensão grave das realidades dessa ordem, bem como uma tendência infeliz de querer reduzi-las ao nível das contingências profanas. O historicismo de nossos contemporâneos só se satisfaz quando um nome é colocado sobre tudo, isto é, quando se atribui tudo a individualidades humanas específicas, segundo a concepção mais restrita que se pode fazer do indivíduo — aquela que se refere à vida profana e que leva em conta unicamente o modo corporal. Contudo, o fato de que a origem das organizações iniciáticas jamais possa ser legitimamente relacionada a tais individualidades já deveria suscitar reflexões nesse sentido; e, quando se trata das organizações de ordem mais profunda, os próprios membros não podem ser identificados, não porque se escondam — o que, por mais zelo que se empregue nisso, nem sempre pode ser eficaz —, mas porque, em rigor, eles não são personagens no sentido que os historiadores gostariam, de modo que quem quer que pretenda nomeá-los inevitavelmente incorrerá em erro. Antes de entrarmos em explicações mais detalhadas sobre esse ponto, diremos que algo análogo se encontra, proporcionalmente, em todos os graus da escala iniciática, mesmo nos níveis mais elementares. Assim, se uma organização iniciática é realmente aquilo que deve ser, a designação de qualquer um de seus membros por um nome profano — ainda que este seja exatamente materialmente correto — estará sempre marcada por uma falsidade, semelhante à confusão que existiria entre um ator e o personagem cujo papel ele desempenha, e cujo nome se insistisse em aplicar-lhe em todas as circunstâncias de sua existência.
Já tivemos ocasião de falar da iniciação concebida como um tipo de “segundo nascimento”; é por consequência lógica imediata dessa concepção que, em muitas organizações, o iniciado recebe um novo nome, diferente do seu nome profano. Isso não é uma mera formalidade, pois esse nome deve corresponder a um modo igualmente distinto de ser — aquele cuja realização é tornada possível pela ação da “influência espiritual” transmitida pela iniciação. Pode-se notar, aliás, que mesmo do ponto de vista exotérico existe prática semelhante, e por razão análoga, em certas ordens religiosas. Temos, então, dois modos distintos para um mesmo ser: um que se manifesta no mundo profano, e outro que se exerce no interior da organização iniciática. Normalmente, cada um desses modos deve ter seu próprio nome, sendo o nome de um inadequado ao outro, já que pertencem a ordens verdadeiramente diferentes. Podemos ir ainda mais longe: a cada grau de iniciação efetiva corresponde ainda um novo modo de ser; o iniciado deveria, portanto, receber um novo nome para cada um desses graus e, mesmo que esse nome não lhe seja de fato atribuído, existe, no entanto, pode-se dizer, como expressão característica desse modo — pois um nome, em realidade, nada mais é do que isso. Ora, sendo tais modos hierárquicos entre si, também os nomes que os representam o são: um nome será tanto mais verdadeiro quanto mais corresponder a um modo de ordem mais profunda, pois expressará algo mais próximo da essência verdadeira do ser. Ao contrário do que comumente se pensa, é, portanto, o nome profano que, por estar ligado ao modo mais exterior e à manifestação mais superficial, é o menos verdadeiro de todos; e isso é particularmente verdadeiro em uma civilização que perdeu todo caráter tradicional, e onde tal nome já não exprime quase nada da natureza do ser. Quanto ao que se pode chamar de nome verdadeiro do ser humano — o mais verdadeiro de todos — trata-se de um nome que é também um número, no sentido pitagórico e cabalístico desse termo, e que corresponde ao modo central da sua individualidade, isto é, à sua restauração no “estado primordial”, pois é ele que constitui a expressão integral da sua “essência individual”.
Resulta dessas considerações que um nome iniciático não deve ser conhecido no mundo profano, pois ele representa uma modalidade do ser que não poderia manifestar-se neste domínio; de modo que o seu conhecimento cairia, por assim dizer, no vazio, não encontrando nada a que pudesse realmente aplicar-se. Inversamente, o nome profano representa uma modalidade que o ser deve despir quando penetra no domínio iniciático, e que não é então para ele senão um simples papel que desempenha exteriormente; exterior; este nome, portanto, não poderia ter valor algum neste domínio, em relação ao qual aquilo que ele exprime é, por assim dizer, inexistente. É evidente, aliás, que essas razões profundas da distinção, e, por assim dizer, da separação entre o nome iniciático e o nome profano — enquanto designando ‘entidades’ efetivamente diferentes — podem não ser conscientes em todos os lugares onde a mudança de nome é de fato praticada. Pode acontecer que, em virtude da degenerescência de certas organizações iniciáticas, se chegue a tentar explicá-la por motivos puramente exteriores, por exemplo, apresentando-a como uma simples medida de prudência — o que, em suma, equivale aproximadamente às interpretações do ritual e do simbolismo em um sentido moral ou político —, e isso de modo algum impede que tenha havido, em sua origem, algo de natureza completamente diversa.
Pelo contrário, quando se trata apenas de organizações profanas, esses mesmos motivos exteriores são então realmente válidos, e não pode haver nada além disso, a menos, contudo, que exista também, em certos casos, como já dissemos a propósito dos ritos, o desejo de imitar os costumes das organizações iniciáticas — mas, naturalmente, sem que isso possa corresponder à menor realidade; e isto mostra mais uma vez que aparências semelhantes podem, de fato, recobrir as coisas mais diferentes.
Agora, tudo o que dissemos até aqui sobre essa multiplicidade de nomes — representando outras tantas modalidades do ser — refere-se unicamente às extensões da individualidade humana, compreendidas na sua realização integral, isto é, do ponto de vista iniciático, ao domínio dos ‘pequenos mistérios’, como explicaremos adiante de maneira mais precisa.
Quando o ser passa aos ‘grandes mistérios’, isto é, à realização de estados supraindividuais, ele passa, por isso mesmo, além do nome e da forma, pois, como ensina a doutrina hindu, estes (nâma-rûpa) são as expressões respectivas da essência e da substância da individualidade.
Um tal ser, verdadeiramente, já não possui nome algum, pois trata-se de uma limitação da qual ele está doravante liberto; poderá, se for o caso, tomar qualquer nome para se manifestar no domínio individual, mas esse nome não o afetará de modo algum e lhe será tão ‘acidental’ quanto uma simples veste que se pode abandonar ou trocar à vontade.
Eis aí a explicação do que dizíamos acima: quando se trata de organizações dessa ordem, seus membros não têm nome, e, aliás, elas próprias tampouco o têm; nessas condições, que poderia ainda despertar a curiosidade profana? Mesmo que esta chegue a descobrir alguns nomes, eles não terão senão um valor puramente convencional; e isso pode já ocorre, muito frequentemente, com organizações de ordem inferior àquela, nas quais se empregam, por exemplo, ‘assinaturas coletivas’, representando, seja essas organizações mesmas em seu conjunto, seja funções consideradas independentemente das individualidades que as exercem.
Tudo isso, repetimos, decorre da própria natureza das coisas de ordem iniciática, nas quais as considerações individuais nada significam, e não tem por fim desencaminhar certas investigações, ainda que disso resulte tal consequência de fato; mas como poderiam os profanos supor aí algo diferente das intenções que eles próprios são capazes de conceber?
Daí provém também, em muitos casos, a dificuldade ou mesmo a impossibilidade de identificar os autores de obras que apresentam um certo caráter iniciático: ou são inteiramente anônimas, ou — o que equivale ao mesmo — têm por assinatura apenas uma marca simbólica ou um nome convencional. Além disso, não há razão alguma para que seus autores tenham desempenhado no mundo profano qualquer papel aparente.
Quando tais obras trazem, ao contrário, o nome de um indivíduo conhecido por outras razões, como tendo efetivamente vivido, talvez não se esteja, por isso, muito mais adiantado, pois isso não significa que se saiba exatamente a quem ou a que se tem realmente diante de si: esse indivíduo pode muito bem não ter sido senão um porta-voz, ou mesmo uma máscara. Em tal caso, a sua suposta obra poderá implicar conhecimentos que ele jamais possuiu de fato; pode tratar-se apenas de um iniciado de grau inferior, ou até mesmo de um simples profano que tenha sido escolhido por motivos contingentes quaisquer — e então, evidentemente, não é o autor que importa, mas unicamente a organização que o inspirou.
Aliás, mesmo na ordem profana, pode-se admirar a importância que, em nossos dias, se atribui à individualidade de um autor e a tudo o que a ela se relaciona, de perto ou de longe; dependerá, porventura, o valor da obra, de algum modo, dessas coisas? Por outro lado, é fácil constatar que a preocupação em ligar o próprio nome a uma obra qualquer se encontra tanto menos quanto mais estreitamente uma civilização está unida aos princípios tradicionais, dos quais, com efeito, o ‘individualismo’, sob todas as suas formas, é verdadeiramente a negação mesma.
Compreende-se facilmente que tudo isso se encadeia, e não queremos insistir mais sobre o assunto, tanto mais que são coisas acerca das quais já nos explicamos frequentemente em outras ocasiões; mas não era inútil sublinhar ainda, nesta circunstância, o papel do espírito anti tradicional, característico da época moderna, como causa principal da incompreensão das realidades iniciáticas e da tendência de reduzi-las aos pontos de vista profanos.
É esse espírito que, sob nomes tais como os de ‘humanismo’ e de ‘racionalismo’, esforça-se constantemente, há vários séculos, por reduzir tudo às proporções da individualidade humana vulgar — queremos dizer, à parcela restrita que dela conhecem os profanos — e por negar tudo o que ultrapassa esse domínio estreitamente limitado, em particular tudo o que pertence à iniciação, seja em que grau for.
Mal é preciso observar que as considerações que acabamos de expor aqui se baseiam essencialmente na doutrina metafísica dos estados múltiplos do ser, da qual constituem uma aplicação direta; e como poderia tal doutrina ser compreendida por aqueles que pretendem fazer do homem individual — e até de sua única modalidade corporal — um todo completo e fechado, um ser que se basta a si mesmo, em vez de ver nele o que ele realmente é: a manifestação contingente e transitória de um ser em um domínio muito particular, entre a multidão indefinida daqueles cujo conjunto constitui a Existência universal, e aos quais correspondem, para esse mesmo ser, tantas modalidades e estados diferentes, dos quais ele poderá tomar consciência precisamente ao seguir o caminho que lhe é aberto pela iniciação?