La Tradition hermétique, abril de 1931.
Sob título: La Tradizione Ermetica nei suoi Simboli, nella sua Dottrina e nella sua “Ars Regia”, ¹ o Sr. J. Evola publicou um trabalho interessante em muitos aspectos, mas que mostra mais uma vez, se necessário fosse, a conveniência do que havíamos dito recentemente (no número de janeiro de 1931) a respeito da relação entre iniciação sacerdotal e iniciação régia. Encontramos aqui, de fato, a mesma afirmação da independência desta última, à qual o autor deseja precisamente conectar o hermetismo, e essa ideia de dois tipos tradicionais distintos e até irredutíveis, um contemplativo e o outro ativo, que seriam geralmente, respectivamente, característicos do Oriente e do Ocidente. Assim, devemos fazer algumas reservas quanto à interpretação dada ao simbolismo hermético, na medida em que é influenciada por tal concepção, embora, por outro lado, mostre que a verdadeira alquimia é espiritual e não material, o que é precisamente a verdade, é uma verdade que é muitas vezes desconhecida e ignorada pelos modernos que pretendem tratar dessas questões.
Aproveitamos esta oportunidade para esclarecer ainda mais alguns conceitos importantes, o primeiro dos quais é o significado que deve ser atribuído à palavra “Hermetismo” em si mesma, visto que alguns de nossos contemporâneos parecem estar usando-a de forma um tanto incorreta. Essa palavra indica que se trata essencialmente de uma tradição de origem egípcia, posteriormente revestida de forma helênica, muito provavelmente na época do período alexandrino, e transmitida em seguida, na Idade Média, ao mundo islâmico e ao mundo cristão, e devemos acrescentar, através do primeiro, às escolas hebraicas posteriores, bem como aos numerosos árabes e arabistas cujas obras foram adotadas pelos hermetistas europeus, começando pelo termo muito difundido de ‘alquimia’ (al-Kīmiyā).² Não seria, portanto, de forma alguma ilegítimo estender essa designação a outras formas tradicionais, assim como não o seria aplicar, por exemplo, a palavra ‘Cabala’ a qualquer coisa que não fosse o esoterismo hebreu; não há, evidentemente, equivalente possível, e há até muito indício de que essa ciência tradicional da alquimia tenha suas correspondências exatas em doutrinas como as da Índia ‘naturalista’, ou seja, pela negação da metafísica e pela ignorância do caráter subordinado da ciência ‘física’, e ainda pela origem sacerdotal de todos os ensinamentos iniciáticos, acentuada ainda mais no que se refere ao uso dos Kshatriyas, como já explicamos em várias ocasiões. ³ Isso não significa, certamente, que o hermetismo consista em si mesmo em tal desvio ou que envolva essencialmente algo ilegítimo (o que teria tornado impossível incorporá-lo às formas tradicionais ortodoxas); mas é preciso admitir que ele pode facilmente levar a isso por sua própria natureza, e que é esse, de modo mais geral, o perigo de todas as ciências tradicionais, quando cultivadas por si mesmas, expõem aqueles que as seguem ao risco de perder de vista o apego à ordem principal. A alquimia, que poderia ser definida como as ‘técnicas’ do hermetismo, é verdadeiramente uma ‘arte real’, se com isso quisermos designar um modo de iniciação mais especificamente apropriado à natureza dos Kshatriyas; mas isso marca exatamente o seu lugar no todo de uma tradição regularmente constituída e, além disso, não devemos confundir os meios de realização iniciática, sejam eles quais forem, com seu fim último, que é sempre o de puro conhecimento.
Outro ponto que nos parece questionável na tese do Sr. Evola é a assimilação que ele tende quase constantemente a estabelecer entre hermetismo e ‘magia’; é verdade que ele parece tomar esta última num sentido bem diferente daquele em que geralmente a ouvimos, mas receamos muito que isso possa causar algumas confusões bastante infelizes. Inevitavelmente, assim que se fala de ‘magia’, pensa-se numa ciência destinada a produzir fenômenos mais ou menos extraordinários, notadamente (mas não exclusivamente) no domínio sensível; qualquer que tenha sido a origem dessa palavra, esse significado tornou-se tão inerente a ela que deve ser deixado assim. É então somente um dos ramos inferiores de todas as aplicações do conhecimento tradicional, poder-se-ia até dizer o mais desprezado, cujo exercício é abandonado àqueles cuja limitação individual os torna incapazes de desenvolver outras possibilidades; não vemos nenhuma vantagem em evocar a ideia quando ela é realmente apenas uma dessas ciências, mesmo que ainda contingentes, de ordem superior; e, se é apenas uma questão de terminologia, deve-se reconhecer sua importância. Além disso, pode haver algo mais: a palavra ‘magia’ tem uma ressonância bastante particular entre os homens de nosso tempo, e, como já observamos na passagem precedente à qual nos referimos no início, a preponderância concedida a tal ponto de vista não seria a mesma em uma iniciação que ainda permanecesse fiel ao princípio tradicional. Sem dúvida, é esse o perigo com que se depara toda tentativa de cultivar essas ciências quando se separam de seu princípio metafísico, se não começarmos com aquilo que é o começo em todos os aspectos, isto é, pelo próprio princípio, que é também a única visão segundo a qual tudo deve ser ordenado.
Por outro lado, onde estamos plenamente de acordo com o Sr. Evola, e onde se encontra o maior mérito de seu livro, é quando ele insiste na natureza puramente espiritual e ‘interior’ da verdadeira alquimia, que não tem absolutamente nada a ver com as operações materiais de qualquer ‘química’, no sentido natural da palavra; contudo, é estranho notar que todos os modernos, tanto os que pretendem defender a alquimia como aqueles que a ridicularizam, se equivocam nisso. É fácil ver em quais termos os hermetistas falavam dos ‘sopradores’ e dos ‘carvoeiros’, nos quais devemos reconhecer os verdadeiros precursores da química corrente, tão insignificante para eles; e, já no século XVIII, um alquimista como Pernéty não deixa de enfatizar a diferença entre a ‘filosofia hermética’ e a ‘química vulgar’. Assim, aquilo que se chama de química moderna não é alquimia, com a qual de fato não tem relação alguma (não mais do que a ‘hipperquímica’ imaginada por alguns ocultistas contemporâneos); não passa de uma distorção ou desvio, resultante da incompreensão daqueles que, incapazes de penetrar nos verdadeiros significados dos símbolos, tomavam tudo ao pé da letra e, acreditando que tudo estivesse nas operações materiais, lançavam-se a experimentações mais ou menos desordenadas. No mundo árabe, a alquimia material sempre foi considerada muito baixa, às vezes até assimilada a uma espécie de feitiçaria, enquanto a alquimia espiritual, o único tipo real, é frequentemente designada pelo nome de al-kīmiyā’ as-sa‘ādah ou a ‘alquimia da felicidade’. ⁴
Além disso, não se trata de dizer que seja necessário negar a possibilidade das transmutações metálicas, que representam a alquimia aos olhos do vulgo; mas não devemos confundir coisas que são de uma ordem completamente diferente, e nem sequer sabemos, a priori, porque tais transmutações não poderiam ser realizadas por processos que são apenas de ordem puramente química (e, em sua essência, a ‘hipperquímica’ à qual aludimos anteriormente não é outra coisa senão isso). Contudo, há ainda outro aspecto dessa questão, que o Sr. Evola assinala com acerto: aquele que chegou à realização de certos estados interiores pode, em virtude da analogia da realização do ‘microcosmo’ com o ‘macrocosmo’, produzir efeitos correspondentes no exterior; é, portanto, permitido ao homem que tenha atingido tal grau na prática da alquimia espiritual realizar efetivamente transmutações metálicas; mas isso é apenas uma consequência acidental, que só pode ocorrer pelo recurso a um dos métodos da pseudo alquimia material, e somente por uma espécie de projeção exterior das energias que ele carrega consigo. Aqui há uma diferença comparável àquela que separa a ‘teurgia’ ou a ação das ‘influências espirituais’ da magia até mesmo a feitiçaria: se os efeitos aparentes são às vezes os mesmos de ambos os lados, as causas que os provocam são totalmente diferentes. Além disso, acrescentaremos que aqueles que realmente possuem tais poderes em geral não fazem uso deles, ao menos fora de circunstâncias muito peculiares, nas quais o seu exercício é legitimado por outras considerações. Seja como for, o que não devemos jamais perder de vista, e o que está na base de todo verdadeiro ensinamento iniciático, é que qualquer realização do homem é essencialmente interior, ainda que seja suscetível de ter repercussões exteriores; o homem pode encontrar os princípios e os meios dentro de si mesmo, e ele pode porque traz em si a correspondência de tudo o que existe: al-insân ramz al-wujûd, “O homem é um símbolo da Existência Universal”; e se consegue penetrar até o centro do seu próprio ser, alcança assim o conhecimento total, com tudo o que isso implica, a saber: man ‘arafa nafsahu ‘arafa Rabbahu, “Aquele que conhece a si mesmo conhece o seu Senhor”; e ele então conhece todas as coisas na suprema unidade do próprio Princípio, fora do qual nada pode ter o menor grau de realidade
¹ Vol. in-8º, G. Laterza, Bari, 1931.
² Essa palavra é árabe em sua forma, mas não em sua raiz; provavelmente deriva do nome Kemi ou ‘terra negra’ dado ao antigo Egito.
³ Cf. Spiritual Authority and Temporal Power, especialmente.
⁴ Há um tratado de Al-Ghazâlî que leva esse título.